Veteranos que não param de lutar, por Daniel Fucs


Com a confirmação do próximo combate de Roy Jones Jr., novamente me pego pensando no que leva tantos talentos do passado insistirem no adiamento da aposentadoria.
Roy Jones Jr. e Julio Cesar Chávez (pai) representaram nos seus auges, numa mesma época, as maiores estrelas que o boxe podia apresentar. Quando a hora chegou, Chávez não conseguiu manter-se longe do ringue. Era um vício do qual não podia manter-se afastado. E a decisão de prolongar sua carreira até os 43 anos de idade fez com que amargasse derrotas que alguns anos antes não aconteceriam, por pouco não maculando seu prestígio. Roy Jones, apesar de pouco mais novo que Chávez, brilhava na mesma ocasião e em alguns anos que se sucederam. Dezenas de defesas de diversos títulos mundiais em categorias de pesos distintas. Ganhou tanto dinheiro que sustentava um time de basquete. As derrotas chegaram e o fantástico boxeador continua em atividade aos 42 anos de idade. Sua última luta foi uma derrota, em abril de 2010, para outro fenomenal boxeador do passado, Bernard Hopkins, que está com 46 anos e que deveria pensar seriamente em abandonar a carreira, apesar de encontrar-se em melhor forma que Jones Jr.
Quando Jose Sulaiman, presidente do WBC, sugeriu há algum tempo que os promotores evitassem programar boxeadores com mais de 40 anos, o recado tinha alvos claros. Roberto “Manos de Piedra” Duran e George Foreman eram os campeões do passado, ambos com mais de 40 anos de idade, que vislumbravam novas conquistas mundiais. Roberto Duran sofreu um acidente na Argentina e abandonou o boxe como pugilista. George Foreman, como todos sabem, tornou-se mais uma vez campeão mundial, fazendo com que a exceção derrubasse a correta argumentação de Sulaiman.    
Não tenho dúvida que a preocupação do dirigente era com a integridade dos pugilistas. Que ninguém se esqueça da forma como Muhammad Ali deixou o boxe aos 40 anos, após algumas derrotas.
Mesmo considerando que a preparação moderna pode permitir à alguns lutadores com 40 anos, que tenham se protegido no passado, a continuidade da carreira por mais algum tempo, na prática vejo isto acontecer raramente.

Um exemplo é Bert Cooper. Foi um bom pesado há 20 anos, tendo aplicado uma queda em Evander Holyfield numa disputa de título mundial. Hoje, aos 45 anos, perde mais do que vence e meteu-se também com vale tudo como uma forma de arrecadar. O próprio Evander Holyfield, que irá completar 49 anos em outubro, mantém-se boxeando. Comenta-se que o motivo do seu prosseguimento como pugilista é a necessidade financeira.
James Toney, 42, é outro exemplo que deve se manter em atividade também por necessidade financeira. Aceitou participar de um evento de vale tudo e o resultado todos conhecem. Uma derrota acachapante e 500 mil dólares no bolso. Teve sorte em não sair do octógono seriamente lesionado.
Eric Esch, o Butterbean, aos 44 anos, dá muita chance para o azar. Lembro-me de comentar pela TV, há uns 10 anos, lutas dele quando pesava 150 / 160 kg. Folclórico, só fazia combates de 4 rounds, por que não tinha fôlego para mais. De lá para cá, passou a realizar lutas de vale tudo, igualmente com adversários escolhidos a dedo para poder vencê-los. Quando isto não acontece, sai derrotado nos dois esportes. Seu último combate de boxe aconteceu em 2009. Pesou incríveis 189 kg. Li que em 2010 foi derrotado em mais uma luta de vale tudo. Achei-o ainda mais gordo e fui verificar o peso: 210 kg.
E se você quiser um exemplo brasileiro é só verificar a carreira de Adilson “Maguila”, que se aposentou com 41 anos. Poderia ter parado uns dois anos antes e evitado apresentações em que o sentimento de tristeza acabou dominando a todos.
Vou parar por aqui. O objetivo foi comentar com exemplos a necessidade que alguns têm de permanecerem em atividade, seja financeira ou psicológica. A saúde e a integridade dos profissionais fica colocada num nível de importância menor.
Por isso falta-me a compreensão quando vejo alguns boxeadores com mais de 30 anos que não se expõem mais num ringue, sejam brasileiros ou não, serem criticados por terem optado pela aposentadoria. Lennox Lewis, Sugar Ray Leonard, Joe Frazier, Marvin Heagler, Popó e Éder Jofre são alguns dos exemplos de atletas que souberam o momento de parar. Souberam o momento de se preservarem. Para si, para os amigos e para suas famílias.

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